27.7.20

Aceitação

Eu sou de uma malha diferente
Cerzida, remendada, com bispontos
entre as costelas e costuras reforçadas

Sorrio muito. Nunca percebi como consigo descoser o leve alinhavo dos lábios

Nunca ninguém me quis até à loucura 
de dobrar comigo o linho, o ninho, o amor
de partir para o mesmo pôr de sol

Só barbaramente fui amada por quem viu em mim os olhos orientais de Salomé
Alguma pétala de uma antiga espécie de solidão
nascida nos fogos do deserto
ou nos pesos herdados de Salomão

A sabedoria de amar o amor, a de servir o amor, a de bordar tudo com um único monograma
que em tempos foi desilusão, quando ainda aspirava o pó dos passos sem regresso

Mas agora, que me ornamenta uma grinalda de simples e serena aceitação,
sejas o que fores, já não mudarás, nem o meu 
(de)sassossego nem a minha irrequieta paixão






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