24.9.19

A perfeição

Está no sangue, nas mãos, no pensamento do artista, do poeta, do desenhador, da bordadeira, do cesteiro. A perfeição, eu já a vi a rondar pelos morros onde nasceu o samba,  voltei a vê-la na lisura das dunas, no voo harmonioso das cegonhas, essa cadência igual, a mesma do sapato irado do flamenco. A perfeição está na natureza e nas mãos, na voz, no olhar dos homens e dos deuses. Eu busco a perfeição. Danço com ela todas as manhãs, quando ofereço sorrisos aos rostos fechados para os expor à sua própria perfeição. Há perfeição no  próprio caos do mundo, na imperfeita indecisão das manhãs. Quando a busco, limpo os vidros do corpo, translucidamente  esboço o meu círculo, transpareço, acendo uma luz à espera de toda a perfeição que puder armazenar. Nada imperfeito sairá do meu círculo sem o adorno da perfeição. Mas eu não sou perfeita. Há sombras do tempo, uma estética complexa de dunas e regatos que correm para a dispersão, a única e derradeira (im)perfeição da natureza. Entretanto, aspiro, suspiro pela perfeição. Talvez por isso te respire tanto, meu amor.

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