24.7.20

Gatos

Somos como gatos, esperando,
às vezes desesperando, outras dormindo,
mas presos a uma janela que dá para os telhados, a liberdade, os olhos molhados

Eu sou feliz com a minha natureza felina,
mas não consigo atravessar para o outro lado

Não tenho medo do salto. Sempre aterrei em lugares baixos

Mas receio que agora não haja chão,
nem asfalto

Se tu quiseres eu salto, afinal sou ágil e tenho os pés forrados. Mas tinhas de dar o sinal, pois os olhos já traem os velhos gatos

Sei que não podes. Para mim basta-me o silêncio dos teus passos, cautelosos, como os gatos pardos, na sombra emboscados

Mas posso libertar-te das sombras, das esperas e lançar-te na caçada mais bela
para, finalmente, te encontrares, solto e leve enquanto fazes as tuas próprias aterragens

Esquece-me. Assim, nunca te falhas.
Eu já me  habituei a contemplar janelas.
Sou a própria janela. É tão fácil ver a antecipação da morte junto a ela



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