despeço-me do verão hoje e abraço o inverno de amanhã
não receio o longo inverno como os que esperam a negra escuridão
o inverno é a preparação do nascimento, a germinação da semente que se plantou
tenho terra boa para plantar o futuro
tenho árvores nos montes para crescer
o meu futuro vai ser de vales frescos com rega ao fim do dia
o meu futuro não vai ser aqui nas altas casas do mundo
estarei próxima da terra e não do céu porque eu sou a terra que alimenta esta semente
o futuro é o início, esse é que será o tempo de viver, porque antes não vivi
é para lá que eu quero voltar, não lamento, não lamentes, esta é a letargia da minha espécie, a mutante que despe a pele da cidade
adoro esta apatia que é serenidade, que é a paz de saber que o sol estará em todo o lado onde eu esteja, ou que eu estarei em todo o lado onde ele está
quero partir para a casa envidraçada que é a natureza com socalcos e terraço com vista para o silêncio
sei como espreitar as aves e jogar o mesmo jogo, sei como esperar a chuva e atiçar o sobro
estou a traçar o meu caminho de evasão, num futuro que plantei no alto rio
eu hei de ser a terra, eu hei de ser de terra e hei de morrer na terra
quero ir para as árvores do futuro, como um pássaro perdido que encontra o ramo certo da vida
podes ir também mas se não fores não faz mal, eu já perdi há muito qualquer outro querer
voa, passarinho, o teu futuro há de ser no mundo e haverá sempre lugar no ramo mais forte do meu coração
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