18.10.20

o futuro

despeço-me do verão hoje e abraço o inverno de amanhã

não receio o longo inverno como os que esperam a negra escuridão

o inverno é a preparação do nascimento, a germinação da semente que se plantou

tenho terra boa para plantar o futuro

tenho árvores nos montes para crescer

o meu futuro vai ser de vales frescos com rega ao fim do dia

o meu futuro não vai ser aqui nas altas casas do mundo

estarei  próxima da terra e não do céu porque eu sou a terra que alimenta esta semente

o futuro é o início, esse é que será o tempo de viver, porque antes não vivi

é para lá que eu quero voltar, não lamento, não lamentes, esta é a letargia da minha espécie, a mutante que despe a pele da cidade

adoro esta apatia que é serenidade, que é a paz de saber que o sol estará em todo o lado onde eu esteja, ou que eu estarei em todo o lado onde ele está 

quero partir para a casa envidraçada que é a natureza com socalcos e terraço com vista para o silêncio

sei como espreitar as aves e jogar o mesmo jogo, sei como esperar a chuva e atiçar o sobro

estou a traçar o meu caminho de evasão, num futuro que plantei no alto rio

eu hei de ser a terra, eu hei de ser de terra e hei de morrer na terra

quero ir para as árvores do futuro, como um pássaro perdido que encontra o ramo certo da vida

podes ir também mas se não fores não faz mal, eu já perdi há muito qualquer outro querer

voa, passarinho, o teu futuro há de ser no mundo e haverá sempre lugar no ramo mais forte do meu coração


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