24.11.20

Fada benfazeja

convoco a pedra e a roseta da noite a chegar sagrada. em volta do fogo, pulam animais livres de antigas almas presas condenadas

no pelourinho da paz, cadáveres salvos da morte; não se respira fumo, mas enxofre

é chegada a noite das bruxas - curandeiras alinhadas no universo, orientadas para um astro vermelho e sério, malfazejo

olhos ocultos na nevada floresta. ninguém chegou que possa deter a espiral de fogo

convoco os deuses dos amores enviezados, um punhado de almas embriagadas, obscuras de desejo

entre o sal e as madeixas do teu cabelo faíscam pegadas de lontra e patas de percevejo; tambores nos sentidos ferem os passos sobre o fojo

digo o teu nome e inclino o meu rosto. a chama incendeia-me o peito e eu prolongo-me na sombra, um corpo esguio, quase desfeito

no caldeirão azul estremece o rumor de um beijo. sei que virás ao meu encontro, à tardinha, ao passar do realejo

chegam as bruxas curandeiras e eu, que sou donzela e assafata, deixo o encantamento feito e tomo o cavalo de ilharga, com meu ar de musa parva

para se cumprir o meu desejo, virás a mim pela calçada, envolto num manto preto. tem tento nas ciladas traiçoeiras, porque só as de amor são benfazejas

se outras de ti se acercarem, tem cuidado com quem beijas! passarás a tentação se me desejas, mas vem no fio da teia, aranha e presa


Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixa aqui um lírio

Recentemente...

Ângulos

Escuta Esta noite é mais aguda. Alguns cães ainda ladram à passagem da nossa sombra. Eu estou sentada no eixo duma escuridão sem nome. Tu re...

Mensagens populares neste blogue