28.11.20

Rio só

este rio sabe onde vai, corre fortemente para a foz

este caudal é o excesso de chuva
da voz que a chuva traz

este rio sabe para onde vai, extravasa para as mesmas margens

amorosamente a terra afaga o rio que passa e não te vê

há rios que nos levam no olhar
e nós levamos o rio atrás de nós

há rios que correm sós e outros que convergem para o eixo da vida que é também o da morte

partem, mas não chegam sós. os rios sabem aumentar o corpo das águas

eu e tu fomos um rio tonto que perdeu o leito, o lume e o luar

mas cada paisagem faz o corpo que o rio há de ter entre fuga e foz

e eu não sei como dizer-te que toda a minha geografia se move para te acolher

que o teu rio no meu leito e o meu na tua foz são suaves curvas do amor

que fazemos sobriamente, semanticamente, águas fundas, tempos sós





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