18.12.20

Sangrar até ao fim

se eu soubesse, se eu soubesse fazer um ninho e se eu pudesse, se eu pudesse nidar com a suavidade destas mãos, seria a ave dos teus sonhos,  desabrigada e presa p'las asas, nas arribas do teu coração

mas eu não tenho direito a ser ave no teu peito. o meu tempo passou para ti. lamento amordaçada sem gritar o handicap, o crime do tempo

e tu, porque não esmagas aranhas sob os pés, porque não pisas o céu e todas as ervas do coração para me gritar qualquer coisa, tudo menos nada e sobretudo não a mais absoluta razão de quem leva à frente a candeia e leva imperturbável o futuro pela mão 

do que vemos hoje, duvidamos amanhã, fica uma penumbra sombria sob os pés

e eu quero e não quero que me esqueças, mas se o fizeres, sente o que sentes até ao fim, sangra tudo e sangra-me também a mim

ou então, não somos nós, no silêncio imperturbável das minhas mãos, nas tuas palavras de pena, pena não!

amo-te até ao fim, como se ainda houvesse uma arriba, um penhasco, uma folha em branco para mim



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