14.5.21

A esta hora

A esta hora, alguém deita o arroz na água, benze o dia com amor no caldo de miséria e algum amor, porque é noite e a hora vem

Agora mesmo, alguém desce a ladeira com o cão, medindo pela idade a sintonia dos passos

A esta hora, um homem regressa de mãos atadas sem memória dos seus dias, sem pertença que se torne na fartura da casa

A esta hora, começa um filme, uma novela e ela chora a escassez da sua vida

Agora, talvez alguém regresse do sol de mãos abertas para a vida

Talvez alguns casais dansem comovidos

Outros morrem sem saber e partem a meio de um sonho sem sentido

Todos os gestos chegam ao tempo e os passos passados coabitam

Esta é a hora da serena ferida, do reservado silêncio, uma fissura na tarde para chegar à noite, todos os corpos abalados pelo mesmo olhar sedento ou doce

A esta hora abro a fresca válvula e a vida entra. O dia com suas dobras foi-se

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