Reparei que existem, na clara flor das águas, vislumbres luminosos da vida inversa que levamos. Paredes caídas de casas caídas formam nas águas a realidade ideal das coisas, um misto de infinitude e de permanência grácil do passado.
Reparei que também nós somos o inverso do verso que estamos a escrever. Na linha da água detemos a voz, uivamos ventos e ventanias, sublinhamos o amor todos os dias e depois a pele procede em nós.
Reparei que passam as madrugadas leves sobre os corpos e que a vida nos rasura da sua temporalidade. A tua boca de infante é um silogismo, uma toada preciosa a meus pés.
Reparo demais nas coisas. Por isso dobro a realidade em dois e vivo antes na dobra do tempo, dobrada em ti.
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