Busco o nosso mundo nos bolsos dos casacos mais antigos, como se neles andasse ainda o cotão dos meus pensamentos de ti. Mãos arregaçadas no recolhimento que quis, quiseste, quisemos. Mas arrasto em cada dia fiapos de nós, desfiados, loucos, noites pergrinas a mendigar-me uma atenção que já não queria dar-lhes. Mas hoje, hoje, meu amor, levei-te comigo na viagem. Foi como se todos os anos da nossa vida tivessem vindo explicar-se em sons e serenas pautas. Os nossos desejos, dúvidas e desilusões, a nossa teimosia de viver juntos este tempo separado... Aproximamo-nos de um tempo temeroso, o fim do tempo que nunca tivemos e eu só sei que as minhas mãos se agasalham em ti, nos dias de bruma, que a minha pele transpira a tua voz, o meu sangue simula a sedução, o meu peito alteia-se para ti, suspiro-te, enquanto o tempo nos sepulta devagar. Não pergunto onde fica agora a nossa porta, mas gostava tanto daquela árvore onde os teus olhos pousavam, onde também tu me sabias sonhar...
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