Disponho o pão e a maçã, descasco a solidão devagar. Uma palavra no prato, por tocar. Ouço os passos e são seus, mas não pode entrar, nem parar. Leva a sua salvação ao ombro e a casa é um lugar intermédio preso na memória. Porque haveria de parar? O meu grito morre na garganta. Estou sozinha no passado, a descascar camadas e camadas de tempo, o que foi, o que não foi, o que não pode ser. Na minha pele, rasgões, sulcos, séculos de vida abafados. Construo uma ponte há tantos anos! Sempre que ruiu, recomecei-a, escourei, selei, ancorei a minha força. E ainda hoje estou a amontoar castelos de amor na orla mais intensa do mar. Mas ninguém parou para ficar. Nem ele, aquele que nunca soube ser quem é e nunca realmente foi.
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