Às vezes penso no vento dos casebres, aquele que assobia nos mal amanhados vidros e apodrecidas tábuas
Aquele que serpenteia pelos buracos até entrar pelos olhos, pl'os ouvidos, pelas manhãs com um leão a rondar,
como se quisesse "derrubar a máquina do mundo".
Penso no vento dos pobres e compraz-me a minha tranquila idade, a solidão maior de não sentir sequer o vento, uma noite calafetada, um vidro duplo entre a vida e o nada
Penso como é estéril e citadina esta paz suspensa num fio de tédio
Recordarás decerto. Eu e o vento, nós sob o sortilégio do vento sibilante, gemido, inclinado, doente
Tu és esse vento, esse amor agreste e eu sou o lasso lugar de entrada
Do teu olhar, da tua voz, do teu riso, do teu suor
E assim descubro que me está matando a saudade de ti e desse vento primordial que abanou o (nosso) amor
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