12.9.22

O vento dos pobres

Às vezes penso no vento dos casebres, aquele que assobia nos mal amanhados vidros e apodrecidas tábuas

Aquele que serpenteia pelos buracos até entrar pelos olhos, pl'os ouvidos, pelas manhãs com um leão a rondar, 

como se quisesse "derrubar a máquina do mundo".

Penso no vento dos pobres e compraz-me a minha tranquila idade, a solidão maior de não sentir sequer o vento, uma noite calafetada, um vidro duplo entre a vida e o nada

Penso como é estéril e citadina esta paz suspensa num fio de tédio

Recordarás decerto. Eu e o vento, nós sob o sortilégio do vento sibilante, gemido, inclinado, doente

Tu és esse vento, esse amor agreste e eu sou o lasso lugar de entrada

Do teu olhar, da tua voz, do teu riso, do teu suor

E assim descubro que me está matando a saudade de ti e desse vento primordial que abanou o (nosso) amor


Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixa aqui um lírio

Recentemente...

No rescaldo do tempo

Como estás hoje no teu mundo? Moras a terra justa, drenas o tempo em barro seco, ou enleias memórias num novelo? A que te sabe o dia, um mor...

Mensagens populares neste blogue