Escuta
Esta noite é mais aguda.
Alguns cães ainda ladram à passagem da nossa sombra.
Eu estou sentada no eixo duma escuridão sem nome. Tu recitas versos de luz e eu acendo os olhos cansados.
A noite é aguda, como sabes. Há ângulos que desconhecemos.
Por exemplo, esta pode ser uma noite de cometas e prodígios, estrelas cadentes risonhas com um laço azul na Lua.
Ou pode ser apenas um ângulo equilátero em que todos os lados estão previsivelmente certos e tu estás longe e eu estou perto ou o inverso, mas estamos os dois igualmente distantes.
E sós.
Deixo-te um nó na garganta para desatares, se quiseres, deixo-te pontas para atares a tua vida à vida, o ângulo mais congruente da existência humana.
Deixo-te o fino sopro da minha voz.
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