o coração é uma ave sem espaço
que adeja as asas na prisão
como mandam as folhas do vento
que velejam pelas veias
os homens andam com o coração
a rasar as mãos, andam inteiros,
ou aos pedaços,
consoante o coração se parte ou se enche
de rios enamorados
pois é sabido que a arquitetura do coração
vem do céu, limada pelos anjos e ornada
pelos astros
mas as fundações nascem
profundas, no barro das aluviões
de que foi feita a primeira vida
por isso há um desacerto
entre os corações: uns são de diamante
e nada os risca, outros são de ouro, ou prata maciça
e gravam por dentro os movimentos leves
do vento e das pedras, das horas e dias
de um lugar dentro da brisa
outros são o coração da terra
e no seu centro há magma
de cobras traiçoeiras
há corações emaranhados
presos em rosas e labirintos do passado
nunca saem da grades que os cerceiam
alguns, mais livres, buscam a maravilha
e elevam à luz do dia as asas e o prodígio
de aves embriagadas com licor de lírios
voando de mãos dadas e sentidos
esses são os pilares mais fortes
que pela mãos dos deuses foram plantados
e assim também são os mais leves
porque têm de seu o voo mais elevado
mas todos os corações sentem
o mais fino diapasão do vento
e são alados
28.5.12
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