hoje tenho a melancolia leve do passageiro
que já só vê mar no horizonte
no seu barco oscila a sua vida
e o seu tempo é uma vaga permanente
hoje mudava o mapa do meu trilho
e o sulco do meu percurso
apagaria tudo num ápice
ou remodulava tudo
teria ficado virginal e doce
no meu castelo de cambraia
à espera que me encontrasses
moço, montado numa égua baia
e um beijo terno no rosto
teria os olhos castos
os seios seriam seda
leite com rosas desmaidas
que beberias com sede
e entre os rios me lavarias
e entre rios me havias de amar
mas não seria este o meu olhar
nem minhas mãos tanto te diriam
nem os meus passos teriam história
nem o meu regaço haveria ninhos
em breve a minha alvura
e a submissão do meu corpo
te lembrariam o mar em redor
e tu num barco melancólico
sem mistério nem profundidade
que te fundeasse a alma
para depois, em terra arada e revolvida,
estenderes o rosto e chorares
e a tua tristeza ser enfim ouvida...
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