11.8.08

verão sem tempo

fenda de algodão, tu dizes
e o silêncio dos meus dedos
defende estas paredes
infere da funda tentação
de te chegar ileso
o anel ansioso do desejo

fenda de paixão
muralha em sede
dos meus dias
busca de um Verão eterno
daqueles da infância
quando o tempo tinha o tempo
da demora no sonho

e nunca nada acontecia
porque tudo era longo e profundo

vivo um Verão assim
não quero datas nem horas, nem dias
nem quero sequer momentos
apenas a permanência da vida
no contínuo canto das cigarras
o sol e as suas ternas garras
um dia atrás do outro,
contado pela pele
apenas esta regista a passagem do tempo
no dourado da epiderme

descalça no asfalto
as mãos presas na terra
os olhos esquecidos na franja de um livro
e o horizonte límpido
estendido, estendido,
o único rio que me agita...
a suspensão dos sentidos...

.

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