12.10.08

lírios unos e cintilantes



olha, podemos encarcerar a noite
numa sílaba
expandir o tempo numa só palavra
estendê-la numa cama
e despir o poema em cada estrofe
e cada chama

a tua pele mate
ainda me acode ao tacto
como se o calor do teu corpo
fosse o único lugar de afecto
um sol declinado
que ainda é fusão fria
gelada febre

olha, se te faz feliz
o mundo que nos damos,
eu expando o universo
num só oceano
e fico a bordar flores
no laranjal
que inventámos

que ao menos tu te sintas cedo
quando eu de me faltares
me sinto tarde

e olha, podemos esquecer
que a noite nos demove
que nos deixamos ir sem
um grito de revolta
sem nos avançarmos
no tabuleiro onde o jogo
a sós nos decorre

e com a mesma voz
que me estremece dentro,
porque não há ninguém
que cá fora nos mereça o verso,
com essa mesma voz
que te cultivo
esse mesmo tom que tu só
compreendes
eu te digo, meu amor,

a vida longe de ti
não tem presente
nem o silêncio nos merece
o meu coração convida-te
se quiseres
o meu coração ornamenta-se
com o céu mais celeste
com a Lua mais lunar
a mais lírica lira
que eu souber em meus desvarios
tocar

e assim, esquecemos
que o mundo nos apartou
que a vida nos somou
e subtraiu na pele restante
o abraço ornamentado
de uma noite longa
luminosa e tangente

saberemos
onde o lugar da noite
nos simula ainda lirios
unos e cintilantes, sim,
se quiseres saber,
saberemos sempre
o lugar de antes

.

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