escrever-te-ei
até à última luz destes meus olhos
os meus olhos dilatados de silêncio, os olhos do frio
negros e brancos, carvões onde abrigo o amor imenso
escrever-te-ei enquanto a luz não me cegar o contorno das palavras.
escrever-te-ei o júbilo na extensão do meu sorriso
e as mágoas serão versos desamparados e transidos
escrever-te-ei com a força do abraço
à boca subir-me-á um beijo
um beijo de anjo, leve e esvoaçante
pois cada palavra minha será um gesto
e as minhas cartas, aves perdidas
pousarão suavemente no teu peito
escrever-te-ei como esta noite
num canto da casa, sem violinos,
sem vento do deserto, ou lume
que nos aqueça, mas escreverei
para que a palavra que um dia foi
cada vez mais se engrandeça
como uma flor reservada
que a noite protege
escrever-te-ei contidamente
o curso da vida, o curso da morte...
o curso da renúncia, o curso da entrega...
escrever-te-ei como quem sente...
que as palavras são o abrigo da alma
o lugar do corpo, a voz da fala
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