3.1.09

a voz das flores




Não sei donde vem este silêncio, mas não importa. Está quente no nosso mundo, como se houvesse um apaziguamento gerado pelo próprio mutismo. Olho o mundo, sem o ver. Aqui, onde tudo escurece, reentra a vida que vagueia inocorrida, intemporal, inversa. Brumas e chuva pautam o sangue que me corre sem pressa, no momento em que consigo imaginar o que não vivo e viver o que imagino. Sem pressa de chegar onde nunca chegarei, fico a preencher o puzzle do meu destino, cumprido ao milímetro. Viverei sempre intensamente o que não vivi. Sinto-o mais forte, porque nunca o senti. Beija-me mais fundo, porque nunca me beijou. O meu caminho conduz ao secreto canto das flores, onde o murmúrio inquieto das pétalas me sopra palavras novas e distantes, lacunas dos meus sentidos, alguns aromas, cores de rara melodia, nenhumas vozes... Este silêncio e esta bruma, sou eu a caminhar pelo veludo da relva que calcei há tanto tempo.. Tu podes já ter perdido o trilho, ou não sabes voltar para chegar mais cedo, mas eu insisto em que ouças as flores, são elas que mais te dizem, o que por vezes não te digo...

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