20.1.09

merencório murmúrio II


ouve esta neve que nos vive

no côncavo vazio do ventre
cai tão devagar
como nos secretos momentos
da palavra
em que nos escutamos
e nos ouvimos



ouve esta voz em merencório murmúrio

cultivo-te como um rio que me secou
devagarinho
e falo-te com a aluvião na voz
por te saber longe, oh, tão longe
do meu inseguro ninho

se não me queres no teu mundo
para que me mostras o mundo
que vive dentro do teu mundo?

para que me semeias num canteiro vazio
onde definho sem um sorriso, um aceno
uma pegada de jardineiro
sem sol nas veias
sem seiva nos sentidos

ah, se tu quisesses, ou pudesses, meu amor,
reunir-te comigo, no aconchego da voz
na concha de um momento único,
vazado à vida veloz que nos conduz
se tu quisesses ou pudesses meu amor
calar a neve e o silêncio
eu seria de ti a flor mais fresca e a mais quente
e o nosso abraço duraria do caule ao estame
numa só raiz cravada no presente

se tu quisesses ou pudesses beijar o meu coração
como eu no frio da noite te afloro
em meus lábios as fragas da tua mão...

gosto tanto de ti...

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