a tarde atravessa as paredes
e as paredes na sua oblíqua decadência
banham-se de uma luz intensa
e depois morrem na sombria noite
às vezes detenho a luz, que se aquiete
e pare, e que a tarde dure para sempre;
outras vezes é a tarde que me detém
com o silêncio de quem já nada sente
do meu quarto vejo o presente
e às vezes antecipo o tempo,
é conforme o que me consome
por vezes é o passado que vem ver-me
outras vezes vem um tempo sem nome
há uma declinação por entre as folhas dos minutos
uma espécie de bicho da seda activo e lúcido
que tece teoremas e interlúdios
e depois me rasga tudo
ninguém domina o tempo
nem com rosas e artifícios
nem com salvas de canhões
nem com fugas e feitiços
entre mim e a tarde existe a percepção do mundo
e a sensação de fuga e de retorno
para onde a totalidade me transporta
e onde suponho alcançar tudo.
depois o tempo desenha um delta inesperado,
abrem-se soltos brandos braços de ternura
ainda não atravessei o muro para o outro lado
mas o outro lado abriu-me o peito de ventura.
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