10.2.10

escreve uma história diferente,
onde entre gente de chapéu de coco e olhar displiciente
onde se passeiem mandrágoras e galdíolos sobre cimento
cuida para que nessa história eu e tu
sejamos outros, talvez, mas não muito diferentes
não sei se,
depois de ver os teus olhos, outros haja
que me apoquentem

escreve uma história que seja oca por fora,
mas quente por dentro, uma história onde o nosso papel
não seja o mesmo

eu seria talvez empregada de uma loja
e tu o poeta atormentado, de pedra em pedra,
de glosa em glosa

trarias fitinhas de paixão na lapela e eu contava-as
e media-as pela cor vermelha

a cidade seria uma sardinheira alegre num sol de gatos
habitávamos umas águas-furtadas muito elegantes
onde um passarinho assomava o seu canto titubeante

não haveria roupa na janela,
para se ver bem o naco de Tejo que nos servia de jantar.

seríamos simples como as marés,
e o nosso nome era singelo,
com um timbre musical de abelhas e mel

as ruas seriam apenas ruas
mesmo que tivessem cafés e bancos nos jardins
serviam para conter o amor que levávamos nos passos
para que não se dissipasse ao menor sinal de vento
do deserto; a cidade amáva-nos,
a cidade era apenas um pretexto para ficarmos

inventa-me uma história onde eu caiba
e onde tu tenhas luagr
pode ser mesquinha e fútil
pode ter muito ou pouco sol,
mas que seja grande, para te ouvir a contar

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