3.12.10

espelho de mim




aqui mora um silêncio esguio

como os das igrejas e seus círios
aqui não anda o povo engalanado
nem me visita a falsa urbe
a pisar os lírios e as urzes

aqui a tua ausência deixa marcas
na palavra que cai só, desprevenida,
nas rendas amarelas,
(tão frágeis pontos as ligam ainda)
nas coisas ternas, febris,
por demais vividas

aqui nem rosas urgem, nem enleios se tecem
no silêncio das coisas repetidas
sinto-me distante de tudo, mas presa ao tempo,
falo com a minha voz que arranco funda
mas não há vozes vindas do mundo
que igualem sequer a minha, cansada e muda

há esta concordância minha em ser meu espelho
das coisas que julgo serem minhas e obtidas
mas tudo é julgar e o jogo em que me julgo
é outro espelho e outro ainda e outro mais longo
que está partido

não sei então de onde me vem a companhia
se da minha sombra prolongada nas palavras
se de uma presença que fiz minha
sendo eu mesma a palavra que me guia

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