O dia nas minhas mãos, sereno e calmo, na sua tristeza lisa, uma tristeza que escorre pelas lágrimas das árvores, aturdidas estas pelo vento. Retenho o momento, para que ao passar deixe memória: são estes os últimos dias de um ano que trouxe todas as novidades que interrogámos na noite derradeira e até as que não esperávamos e por isso não questionámos. As incógnitas alinham-se agora no horizonte do novo ano. Aparelham-se as luzes e as lantejoulas, coloca-se o espumante a jeito e já se ouvem as badaladas e os desejos que cada um secreta em si. No final, tudo fica banalmente igual ao que tem vindo a ser. Este ano, não me apetece nada desejar seja o que for. Nem sequer me vejo a sonhar com as luzes do foguetório municipal. Vou ficar contida em mim, calada e calma, esperando que o novo ano não me suspeite, nem me vislumbre e me passe como onda, sem me arrastar para lugar nenhum, que é neste que me sinto bem, sem querer comer da árvore do conhecimento, mantendo o paraíso inquestionável e acreditando que o tempo que temos é o único possível, longe ou perto do futuro, perto ou longe do passado, à beira de um presente inacabado. E, enfim, os votos que faço é que tudo que tiver de mudar me permaneça inalterado.
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