12.10.19

A ilusão de ser feliz

Se me queres, não te esqueças de que há ecos passados, dispersos, fios
da tua voz, que me prendem a ti. 

Se me queres, podes prender-me mais nos teus olhos, por cada hora que viver.
Sāo a suavidade nos meus dias, o quebrarmar das palavras que derramo para ti.

Despede os sinais de fumo que atravessam o coração, intoxica-me de amor, fuma-me a alma até ao fim, se me queres assim.

E setas, manda quantas te atravessarem a garganta. Liberta-te do pólen desnecessário.
Já me polinizaste de amor. Se me queres, contagia-me de ti.

Quero recolher-te no peito como uma constipação crónica. Respiro-te, ardo na tua febre e, de tanto suspiro, sucumbo e saro a sombra de qualquer dor.

Mas se não me queres, deixa-me ao menos ser pueril, neste resgate do quarto e da casa onde vivo a ilusão de ser feliz.



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