Às vezes penso em ti e vejo-te sentado no cume de Dante, com o paraíso à tua esquerda e o pé preso na tua própria armadilha, aquela que te tolhe a chegada. Vejo-me a mim confusa, banida do paraíso onde não te consigo alcançar. Não consegues fugir, mas também não sabes vir de mão aberta para suavizar os estragos do tempo.
Outras vezes vejo-te dócil e doce. Parece que acaricias as nuvens com o teu olhar. Outras ainda pareces o próprio criador irado a julgar a humanidade por ser humana. E eu atrás, incógnita, a apanhar as cerejas que me deixas sem o teu nome, para não seres tu onde és. São deliciosas. Não deixo de as saborear com o coração solto.
Hoje penso em ti com o peso dos anos. Recordo o desconcerto das portas e cancelas desconjuntadas. Não concertámos razões. Nunca as consertaremos. Sempre o equívoco das portas a bater atrás de ninguém. No quarto apagado, com o passado entre mãos, vendaval e vento, dor e paixão, jogamos a quê desta vez?
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