17.7.20

O poema roubado

Não era ainda um poema, talvez até nunca viesse a sê-lo

Eram as imagens mais delicadas que o meu amor me dita. Tinha pedras da lua e poeira de um cometa

Em segredo, sombra e luz, ao ouvido lidas, as pedras mais belas das palavras reunidas

Num simples papel A4, escritas a lápis mal afiado, enquanto esperava num estaleiro as tábuas para um telheiro

Mas entre a fatura pró-forma e a fatura verdadeira, perdi o rumo do papel
onde rabiscara as vozes do poema

Quando voltei para o buscar, os homens todos disseram. Um rapaz novo tinha-o apanhado e desaparecera a lê-lo

Sinto-me honrada mas roubada na minha essência mais pura. Só tu o deverias ler, só tu saberias lê-lo

 O pior é não saber como poderei voltar ao universo onde teve origem tudo, o impulso primeiro

Quando for parar ao lixo, lugar próprio dos papéis esquecidos, eu sei que a meio da noite começam a sair as chispas de um fogo universal escondido, uma poeira astral indefinida, tão invisível para os olhos como os impulsos de amor perdidos



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