14.8.20

O abismo do céu à noite

Só vi duas estrelas cadentes. Quando olhamos muito tempo para o universo, acontecem duas coisas: um torcicolo no pescoço e o medo incomensurável que nos dá aquele abismo palpitante, massa luminosa amorfa mas viva no seu movimento certo, rigor que certamente inspirou os relojoeiros suíços.

É um caos arrumado. A massa negra forra as estrelas com veludo azul escuro e o mistério ergue-se à noite como tenda de um circo universal.

Podemos cair dentro do universo. A atração é forte, como o desejo de mergulhar num lago escuro com pedrinhas de ouro.

Se olharmos tempo de mais o universo é o nosso chão, a nossa ponte para o infinito, um pouco mais de luz e cegaríamos.

Eram só duas a passar. Talvez as outras se tenham despenhado nos olhos de alguém para todo o sempre. Talvez tenham tomado um rumo inesperado, na sua liberdade inconsciente.

Se dois seres as virem à mesma hora, jamais se deixarão levar pela entropia do tempo. E o amor demora.


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