É devagar que a nudez acontece. Despido o dia, sacudido o pó das estradas desavindas, ficamos sós com a pureza da alma.
E que fazer com esta espécie de flor
que desfalece na escuridão?
Qualquer disuasão do pudor é impura. Qualquer haste de ridículo não tem aqui lugar. Mas a intimidade é ridícula!
A (nossa) intimidade não cabe num poema, mas o poema cabe na intimidade e a nossa é um enamoramento intemporal.
Se partilhamos a nossa pequena eternidade, que ela seja tão chegada como duas casas geminadas. Não são admitidas as luzes de outras ribaltas.
Meu amor, tanto te daria se as palavras não parecessem impuras
para a delicadeza do teu olhar, da noite e do universo que nos suporta.
Deixa-me, porém, lembrar-te que a nossa eternidade é o nosso corpo.
E a noite já foi tumulto, revolta, suavidade, amor e, se a encerrarmos, será com um suave rasto do prazer. Do nosso mundo.
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