Regresso a casa, tenho medo de sair de casa, quero voltar para casa. Todos querem. Mulheres pesadas com crianças e sacos atravessam devagar a passadeira como se fosse a última de muitas travessias. O rapaz glovo está com pressa e rasa os transeuntes em ziguezagues perfeitos.
Ponto traço, páro, arranco, travo. A música dos dias normais. O tempo decorre devagar, o ritmo hipnotiza-me. Vou na calçada, absorta, fora dos meus sentidos. Percebo apenas que sou parte da massa humana que trabalha. Somos todos um, o glovo, os transeuntes, as pessoas dentro das latas douradas com rodas e jantes, como gaiolas andantes.
Tenho medo de me dividir aos bocados se sair de casa, diluída na anómima parada. Tenho medo de me fundir com a gente amestrada:
ponto, traço, pára, arranca, trava.
Pessoa com o seu rosto desconfiado e o seu olhar de fachada sentiria tudo como o apagamento da consciência. Ponto, traço, pára, arranca, trava.
"Somos todos um". E não nos disseram nada.
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