29.10.20

A pedra

podia ter sido uma pedra vulgar, daquelas que empurramos com o pé e rolam vereda abaixo, podia ser uma pedra grande daquelas que contornamos, podia ter sido uma pedra do rio daquelas que rolam, mas não. foi uma pedra de fino recorte, torneada como anca de mulher, forte como braço de homem, fria como a geada, quente como o sol. as pedras não sorriem, somos nós que lhes sorrimos mas está pedra era daquelas que dá vontade de apanhar e chegar ao coração, talvez fosse um braço do corpo do amor, uma pedra arrancada ao corpo, pela pele, uma pedra que mantinha em si o calor do verão a frescura da pele de alguém.

podia ter sido outra qualquer mas foi aquela que apanhámos, um quartzo que encetou o pulsar magnético dos dois. tenho pena, amor, que essa pedra nos afundasse um dentro do outro, sem antes nem depois. por ti, por nós, devíamos ter sido de outros à flor distante da pele. terias sido livre antes, durante e depois. 


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