às vezes observo a pele como quem mede a idade. vejo a inclinação das pálpebras para o solo, as tuas também, por certo começamos a descer poro a poro para o centro vertical do tempo
duas linhas oblíquas como se tivéssemos decalcado os olhos um no outro, tão parecidos por fora como por dentro, mas mais duros os teus, como se tivesses dentro uma faca por afiar
tenho medo de dilacerar a dor com a palavra seducente, um encantamento revertido contra o caçador que caçou e é caçado, tu em mim e eu em ti, um braço imenso oculto e alçado, a pique o épico momento do contacto
fomos demasiado longe, amor, para quem não saiu do quarto, tenho medo de te ter desviado para dentro do meu vazio, como amplo preenchimento do meu corpo vago
quando nos acharmos de novo sós, o nosso eu é demasiado frágil sem o nós
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