os ventos lutam, indomáveis, o vento frio e o que vem das terras quentes e não há ninfas que os venham apaziguar
desta luta invisível saem tempestades com nomes femininos ou porque os meteorologistas sejam machões ou porque sejam feministas, deixando mal vistas as mulheres pacatas cá da terra
estas pandemias climáticas vêm juntar-se a outras que andam por aí e o cidadão volta alagado do trabalho, com chuva na paragem do autocarro e no próprio autocarro, com a máscara interior magoada e a outra molhada e permeável aos ataques virais
ah, estes dias duros e coersivos!
Portugal, hoje és nevoeiro ainda mais do que o poeta viu, ainda mais do que a mítica visão dos deuses jamais concebeu
ninguém vence nesta luta de ventos e políticas sanitárias e medidas de expatriação da pobreza, medidas de engano, inoperância, desagravo ao povo
não se concebe a vida amordaçada
mas também não se concebe em liberdade, se não formos livres
ninguém vence a chuva que alaga tudo, que corre pelas ruas da cidade e leva, arrasta o lixo e os entulhos, os vírus e os medo do futuro
ninguém vence os ventos que quebram a força antiga das árvores e estragam a sanidade do cidadão já pouco sã, porque perdeu o trabalho, o futebol, a tasca da esquina e às vezes a casa em que vivia e nós, e nós, ninguém nos vence, ouves, ninguém nos pode vencer, porque se cedemos, quem ficará de pé depois de nós?
(fiquemos apenas ouvir a chuva até nos tornarmos no intervalo onde cabem os nossos sonhos cadentes)
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