9.10.20

efemeridades

Versos roubados à rotina, entre livros e pó, só podem ser versos de saudade, de sombra, silêncio e luz.

Todos os livros mudos, alinhados sobre mim, tanta palavra que doeu a escrever e ninguém lê, ninguém acede, nem quer aceder, a esse momento piramidal da criação. Mas está lá.

Toda a literatura deste mundo jaz em prateleiras alnhadas, coloridas e frescas, não-digitalizadas, com a eternidade na quota. 

Não se sabe o futuro das estantes, dos livros, das palavras. O que se escreve hoje pode vir a ser nada.

Efémeras letras, tão recolhidas. Versos roubados à rotina, numa biblioteca contida, confinada, com risos abafados, cumplicidade, poucas falas. 

Versos que roubei ao coração amotinado pela novidade que o amor risca. Estou aqui.

Basta isso para eu ser feliz. Eu também estive ali. E estou agora aqui. 

Só temos o presente, meu amor, e os livros que foram escritos no passado enchem prateleiras e páginas alvas. Para nada. 

Toco o momento. As tuas mãos remendadas.


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