O frio trepa pelos ossos, instala-se nos ombros, o frio fere lentamente o olhar e insiste na zona obscura do pensamento.
Penso com a cabeça vazia nesta tarde de outubro, o dia doloroso da perda do pai, já lá vão vinte e um anos.
O frio tomou-o por dentro. Deve ter querido gritar, mas não havia ninguém que ouvisse. A dor fê-lo tombar para o chão com a meia que ia calçar para o trabalho.
Que lhe passou pelos olhos, nessa negra escuridão da alma? Morro só, com frio, desolado.
Encontraram-no caído, com a meia a caminho do pé, já a manhã ia alta.
Era o meu pai, morto a meio de um gesto, numa manhã fria do mês de outubro.
Foi nesse dia que comecei a ficar mais só e a recear que a morte me encontre sozinha sem uma mão, um olhar, um ser que testemunhe a minha ida.
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