16.11.20

caixeiro viajante

eu devia todos os dias sem exceção vestir um libré dourado, uma farda qualquer de empregado de hotel, daqueles moços do elevador à moda antiga ou de caixeiro-viajante, de preferência este último, para poder viajar muito, mais do que uns andares, não importa onde, porque hoje descobri que existe todos os dias um pôr-do-sol glorioso a que eu não assisto, que digo eu, há milhares de pôr de sol, variações diferentes do que vejo da minha janela.  cada lugar exibe um espetáculo único e o sol é o mesmo!

descobri isso hoje, sem poder parar para captar o que vi. não recordo um pôr-do-sol tão bonito como o de hoje, quando regressava de uma ida à Lourinhã. imagine-se aquelas altas montanhas com as ventoinhas gigantes contra o pôr-do-sol, as eólicas a mexer com longor, branco contra rosa, depois carmim disperso e fiapos alaranjados de nuvens ao sol. diabólico de ver. eu pensei logo, se eu fosse caixeiro-viajante e usasse uma farda qualquer, fosse um qualquer cobrador de fraque, fosse o que fosse que me obrigasse a viajar pelo país, a colher todos os dias um novo pôr-do-sol, eu que sou adoradora do fim do dia, eu que sou crepuscular, eu que colecciono todos os momentos únicos que a natureza me dá?

quero ser viajante permanente mesmo que não tenha nada para vender, nem saiba vender, aliás, só tenho histórias para contar e lugares para descrever, quero avistar beleza a escorrer do céu, morrer num rosal celeste e a sorrir, porque o belo é o que preenche os nossos dias e o importante é ir


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