estou em mim que enlouqueci, devem estar a crescer-me cravos nos olhos cravados de cansaço, flores a voar dos dedos lestos no trabalho, só vejo homens calvos na televisão admirados com a própria perceção e eu só prececiono a loucura coletiva nos faróis dos automóveis nos olhos atrás das janelas, olhos vigilantes e temerosos e os bichos à solta na cidade vão de mão em mão, a doença a passar de beijo em beijo de prato em prato envolto em prata e papel mata-borrão, o mundo a fechar, tudo assimétrico e tapado, bocas tapadas, rostos cravados de solidão, já vejo o bicho da madeira a furar-me os olhos, sou a tranca que não pus na porta, enlouqueci e não é para menos. Vejo giz na garrafa, vejo letras, vigio palavras, vejo trabalho, trabalho, o mundo a parar e eu não páro, estreio a loucura dos outros como um vestido de comunhão, meti a minha meta no bolso e desculpei-me com uma garrafa de cerveja que não bebi. Soluço fundo, haja quem corrija o texto que não escrevi, ou será que escrevi?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Recentemente...
Ângulos
Escuta Esta noite é mais aguda. Alguns cães ainda ladram à passagem da nossa sombra. Eu estou sentada no eixo duma escuridão sem nome. Tu re...
Mensagens populares neste blogue
-
Ele costuma escrever-lhe cartas riscadas como vinil, cartas sem nome, curtas e voláteis, mas ela lia claramente o som da voz, a saudade da...
-
Há quantas luas levamos o tempo às costas, nas mãos alagadas de suor? E há quantas luas lemos os seus sinais, as nuvens que a encobrem, rasa...
-
Atravessar contigo o rio, comove tanto, o passo tonto. Atravessar contigo o rio, uma pedra, outra pedra, saltas tu, salto eu, aqui dá fundo,...
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixa aqui um lírio