19.11.20

Loucura

estou em mim que enlouqueci, devem estar a crescer-me cravos nos olhos cravados de cansaço,  flores a voar dos dedos lestos no trabalho, só vejo homens calvos na televisão admirados com a própria perceção e eu só prececiono a loucura coletiva nos faróis dos automóveis nos olhos atrás das janelas, olhos vigilantes e temerosos e os bichos à solta na cidade vão de mão em mão, a doença a passar de beijo em beijo de prato em prato envolto em prata e papel mata-borrão, o mundo a fechar, tudo assimétrico e tapado, bocas tapadas, rostos cravados de solidão, já vejo o bicho da madeira a furar-me os olhos, sou a tranca que não pus na porta, enlouqueci e não é para menos. Vejo giz na garrafa, vejo letras, vigio palavras, vejo trabalho, trabalho, o mundo a parar e eu não páro, estreio a loucura dos outros como um vestido de comunhão, meti a minha meta no bolso e desculpei-me com uma garrafa de cerveja que não bebi. Soluço fundo, haja quem corrija o texto que não escrevi, ou será que escrevi?

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