sem transição entre outra manhã absolutamente igual, esta é a manhã oculta nos corações, na mera sucessão do tempo suspenso, em que a vida acumula humidade e a bruma cai sobre as coisas, como se um lenço de cinza estivesse amarrado ao planeta. é uma espécie de vapor social que oculta tudo e revela o desaparecimento das ruas, do sol, dos cães, dos gatos pardos, das pessoas. é uma manhã que sublinha o recolher da vida, portas adentro, como se a natureza obedecesse à gravidade social
é nestas manhãs que percebemos a dimensão do nosso pequeno mundo, quando o grande mundo se apaga. somos maiores dentro de nós, com uma natureza oculta, uma sociedade parada, uma vida suspensa. vale-nos o que somos sem os outros. é preciso saber beber lentamente a solidão, sabendo que ela é, nestes tempos difíceis, o seguro pilar da vida que temos
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