11.12.20

Poema amargo

Quanto mais queres ter, menos tens, seja lá o que for que queres ter e não tens. Trabalhas, morres por dia algumas vezes, renasces, porque tem de ser, planejas, executas, amourejas e depois tudo pode desaparecer. 

Não passas da cepa torta e entortas a vida, a espinha dorsal, a conta bancária, a curva do olhar. Queres ir mais longe, evoluir, abrir caminhos, projetar, fazer, executar. Não consegues. Não neste país de taxas. Não nesta terra onde nascem impostos como couves galegas, onde carregas o teu sonho às costas e não tens nada a teu favor, só quem te tire o musgo do chão para que deslizes.

Não, não há amargura maior do que ver a seriação dos seres em tabelas salariais, em contribuintes com direito a perdão de dívidas e, ao lado, miseráveis penhorados. Não! Protesto contra a anomalia dos sonhos e contra a inflação das ideias. Quanto vale o que criaste? Nada. Vendo ideias e projetos inacabados. Quem compra um saco de nada? Tão triste a deserção forçada!

Quem és na massa suada de tantos e tantos que foram fracassados pelo mundo? Um ingrediente precioso, raro, porque és o fermento que eleva e alteia a massa como lava, porém, aos olhos de quem te afunda, não vales nada!

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