6.1.21

Seda bastante

Podíamos falar do tempo frio, de como as botas tricotadas pela avó me aquecem os pés, ou do meu dia desabrigado, feito de múltiplas batalhas.

Podíamos falar da nudez das árvores perante a crua revelação do medo mas hoje prefiro apaziguar-te levemente a fronte.

Prefiro falar-te deste meu seio amplo que é abrigo teu e só teu, nestes dias cada vez mais tristes e gelados, de escuridão perene.

Prefiro falar-te desta arte de resistir sossobrando devagar longe de ti. Deste gelo acumulado que todos os dias se quebra, porque sim.

Prefiro sempre o amor, as nossas mãos presas e indeléveis, a brandura dos teus olhos, o timbre da tua voz.

Sou eu mesma depois do primeiro deslumbramento, mesmo depois de tantas luzes se apagarem, sou ainda aquela que te soube conhecer.

É duro ficarmos presos e apartados. Mas se é suavidade que te falta, tenho seda bastante acumulada, tenho sede bastante aqui calada.

Faz-se tarde, meu amor, abraça-me apenas. Não digas nada.




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