Quando escavo a terra, na minha inépcia pouco campesina, sinto que os pensamentos me fogem, como se o fluir do sangue suprisse exclusivamente a pulsão física dos gestos. Desbravo a terra e ausento-me, mecanicamente colho as ervas e remexo até ver a escuridão intensa do solo, essa mesma cor acastanhada dos troncos, das batatas, das coisas que a terra dá. Nessa altura, não sei ser mais que mãos atentas e, no meu alheamento, não percebi ainda o quanto, nesses momentos, me aproximo daquele que há de ser o meu leito em morte.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Recentemente...
Temos pena
A existência quem disse que se dissolva todos os dias na mesma velha taça dos mesmos dias? Um qualquer existencialista privado do sonho, uma...
Mensagens populares neste blogue
-
Ele costuma escrever-lhe cartas riscadas como vinil, cartas sem nome, curtas e voláteis, mas ela lia claramente o som da voz, a saudade da...
-
Entre montanhas planeio voos e plano sobretudo o lugar da ilha A vida existe mesmo que a não queira. Mesmo que a chame e a submeta aos pés d...
-
Comecei a desaparecer suavemente, com a mesma anónima entrada que fiz no mundo Vi com estes olhos a ruína do mundo, o mover de lodos e areia...
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixa aqui um lírio