Quando escavo a terra, na minha inépcia pouco campesina, sinto que os pensamentos me fogem, como se o fluir do sangue suprisse exclusivamente a pulsão física dos gestos. Desbravo a terra e ausento-me, mecanicamente colho as ervas e remexo até ver a escuridão intensa do solo, essa mesma cor acastanhada dos troncos, das batatas, das coisas que a terra dá. Nessa altura, não sei ser mais que mãos atentas e, no meu alheamento, não percebi ainda o quanto, nesses momentos, me aproximo daquele que há de ser o meu leito em morte.
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