Não encontras neve no teu ninho, moldado em algodão doce, és abençoado como um jovem pepino que vem sobressaltar as colheitas
Tens um coração tenso, porém raso de água de palavras, como goteiras a marcar o asfalto
Encontras um chão e de repente, ou pouco depois, o chão é teu para a eternidade e para derramares toda a seiva do teu corpo, o suor, as lágrimas, a saliva, o sémen e todas as secreções da alma
O chão permanece fixo em rocha e magma. Achaste a via láctea dos homens, onde os deuses não são os maiores sábios
Um dia, o chão rachou em mil bocados. Já não tens nada. Só uma mão cheia de palavras
Está é, meu amor, a história dos heróis desencantados. Homens e mulheres que ficaram sem a segura alma que amavam, sem alma para caminhar a seu lado e com um caminho que se mostra inacabado
Mas tu tens chão. É feito de velho tabuado, a alma de uma acácia incendiada numa tempestade de fogo que o céu fez abençoado
A casa continua adjacente ao sereno regato e a paisagem esconde um bocado de nós, que a habitamos há muito, lustrais, nítidos, embriagados
De poesia e de vinho
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