12.7.21

Sobre o silêncio

Tenho estudado muito pouco o silêncio, tema que me interessa, e tenho estudado demais outros temas que não me interessam. Com efeito, ando com vontade de entender o brilho que há no silêncio quando é tão absoluto que conseguimos até ouvir os nossos mudos pensamentos.

Pergunto-me se essa ausência de som não será um pre-figuração do amor, quando os olhos se buscam e tudo em volta desaparece. Eu olho-te a fundo, tu olhas-me dentro, o resto é luz, luz, encadeamento. E, claro, silêncio.

Depois há aquele silêncio que nos limpa, suave, suavemente, de todo o ruído do dia, como se estivéssemos no colo materno a adormecer. Ou no teu, o que daria um silêncio conjuntivo.

Também sentimos, (quantas vezes!) o silêncio que se faz a seguir à dor, quando a dor faz estalar o osso mais ínfimo do corpo. Esse é um silêncio que grita o impossível conserto do coração, ou do corpo. Tem parecenças com a morte, mas ninguém ainda voltou para o definir.

O silêncio de uma casa, quase nunca total, uma espécie de teia em movimento no tabuado. Bebes esse silêncio e muitas vezes não percebes como pode ser assustador.

Depois há o silêncio de uma voz que dantes era audível perto de nós. Insuportável silêncio esse, o sinal da ausência, a certeza de que o silêncio a dois é agora um mutismo forçado.

O silêncio é a maior dádiva que podes dar a alguém. Que insuportáveis são as pessoas que nunca se calam, as que se colam a nós, imaginando que o nosso silêncio é atenção, e não é assim. É apenas respeito, espera, (quando te calas?). 

O silêncio que prefiro é aquele que se dilui no abraço dado, no aperto amoroso, quando um corpo quer fundir outro, dentro de si. Não são precisas palavras, só o imenso tempo que o abraço contém. É o silêncio mais que perfeito partilhado.

Porém, a melhor coisa do mundo é podermos beber um travo de silêncio juntos, de olhos fechados. Havíamos de iluminar todo um estádio!

Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixa aqui um lírio

Recentemente...

Ângulos

Escuta Esta noite é mais aguda. Alguns cães ainda ladram à passagem da nossa sombra. Eu estou sentada no eixo duma escuridão sem nome. Tu re...

Mensagens populares neste blogue