Tenho estudado muito pouco o silêncio, tema que me interessa, e tenho estudado demais outros temas que não me interessam. Com efeito, ando com vontade de entender o brilho que há no silêncio quando é tão absoluto que conseguimos até ouvir os nossos mudos pensamentos.
Pergunto-me se essa ausência de som não será um pre-figuração do amor, quando os olhos se buscam e tudo em volta desaparece. Eu olho-te a fundo, tu olhas-me dentro, o resto é luz, luz, encadeamento. E, claro, silêncio.
Depois há aquele silêncio que nos limpa, suave, suavemente, de todo o ruído do dia, como se estivéssemos no colo materno a adormecer. Ou no teu, o que daria um silêncio conjuntivo.
Também sentimos, (quantas vezes!) o silêncio que se faz a seguir à dor, quando a dor faz estalar o osso mais ínfimo do corpo. Esse é um silêncio que grita o impossível conserto do coração, ou do corpo. Tem parecenças com a morte, mas ninguém ainda voltou para o definir.
O silêncio de uma casa, quase nunca total, uma espécie de teia em movimento no tabuado. Bebes esse silêncio e muitas vezes não percebes como pode ser assustador.
Depois há o silêncio de uma voz que dantes era audível perto de nós. Insuportável silêncio esse, o sinal da ausência, a certeza de que o silêncio a dois é agora um mutismo forçado.
O silêncio que prefiro é aquele que se dilui no abraço dado, no aperto amoroso, quando um corpo quer fundir outro, dentro de si. Não são precisas palavras, só o imenso tempo que o abraço contém. É o silêncio mais que perfeito partilhado.
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