31.8.21

Armadores de barcos naufragados

A vida de uma pessoa pode ser isto: descobrir que viveu sempre atrás de qualquer coisa e esquecer-se do que era. Ou então continuar a correr sem saber se segue a sua inclinação ou a inclinação do mundo.

Uma noite viramos a página principal da nossa existência e só o sabemos passados anos, quando o livro se escreveu sozinho, por mãos alheias.

A vida também é chegar ao telhado da casa em ruínas e perceber a força das fundações, apesar de tudo se deixar vencer pelo tempo.

Que somos nós dois senão o que sobreviveu a isso tudo? É a reconstrução do teto que reforça a estrutura óssea da casa. 

Nós, os poetas, somos armadores de barcos naufragados, mesmo que estes continuem encalhados, a proa ainda brilha de forte engenho, pela inebriante certeza do amor ou de outro outro sentimento assim extremado.


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