Não tenho muito a dizer, claro, já pouco digo e sem graça, sempre. Mas digo ainda alguma coisa a favor do tempo, mesmo que este me aplique o seu tributo diariamente.
Digo por exemplo a cor do crepúsculo que hoje foi quente, uma laranja 🍊 a largar sumo no horizonte. Digo a cor do amor, que é sempre magenta com um pouco de poente. Exalto o mar ou brindo com o rio o meu pensamento.
Digo coisas prosaicas e garridas, como a massa de gente pousada nas areias do mar, lamento-as por não navegarem, como eu, no rio seco da minha aldeia.
Mas entre as coisas que gosto de dizer está o teu nome, essa geografia difícil da tua vida, quando regressas ao meu colo e te pões a murmurar a inevitabilidade de esquecer o esquecimento que começou a esquecer-nos.
Não digo muito, mas nunca me falha a hora do amor, a hora de o dizer com todas as cores e em todos os tons e toadas. Digo isso, como digo a silenciosa graça da madrugada.
Não digo o que não sei, nem pergunto nada. Tenho medo de ouvir dizer que o tempo nos tirou a fala.
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