27.8.21

O sol da minha rua

O sol na minha rua, doura, doido, os plátanos parados

E as pestanas polidas das moças parecem espigas viradas para o céu, pela luz douradas

Nos passeios o sol doira as pernas doridas dos velhos, doridas ou displicentes, as pernas de quem se entrega à parede e simplesmente se confunde com o dia que passa

O sol é igual em todo o lado, mas na rua onde moro espreita os corações enclausurados nas janelas, beija o rosto pálido das velhas, lambe o dorso dos gatos nas varandas

Não sei como posso viver sem esse sol dos pobres, sem esse sol emoldurado na voz garrida das vizinhas com seus cães pela trela e suas vidas limitadas

O sol da minha rua é fresco como a serra. E eu sou o que a sombra moldou. Uma árvore cansada de crescer longe do sol da minha rua ensolarada

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