O sol na minha rua, doura, doido, os plátanos parados
E as pestanas polidas das moças parecem espigas viradas para o céu, pela luz douradas
Nos passeios o sol doira as pernas doridas dos velhos, doridas ou displicentes, as pernas de quem se entrega à parede e simplesmente se confunde com o dia que passa
O sol é igual em todo o lado, mas na rua onde moro espreita os corações enclausurados nas janelas, beija o rosto pálido das velhas, lambe o dorso dos gatos nas varandas
Não sei como posso viver sem esse sol dos pobres, sem esse sol emoldurado na voz garrida das vizinhas com seus cães pela trela e suas vidas limitadas
O sol da minha rua é fresco como a serra. E eu sou o que a sombra moldou. Uma árvore cansada de crescer longe do sol da minha rua ensolarada
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixa aqui um lírio