Sei do que falo, as noites pobres achadas num quarto antigo, a riqueza das vozes já idas, o vulto da cal acumulada e nós, insubmissos da palavra, segredamos baixo o que não podemos calar. Onde estou, alguém sabe quem fui e onde foram os outros?
Tenho medo de acabar só num quarto assim. Quero acabar em apogeu, a meio de um salto prodigioso, na planura inversa do universo. No quarto, vou contando as traves como se fossem as travessas de uma linha de comboio que me leva sem me apear das garras dessa poltrona (que também já viajou por outros quartos para vir acabar no meu onde me acabo também.
Sei do que falo, quando o quarto me aperta a garganta das outras vidas ali vividas. Antecipo meus os pesadelos de outros, enterrados na profundíssima solidão do abandono. Não quero viver no mundo deles. Tenho tempo. Gosrava de escrever o amor nas paredes do quarto. Se forrar as paredes de amor, com um poema limpo e breve, irei também tapar as impressões digitais dos mortos, afastar a minha decadência, erguer ali mesmo um hino à vida, ao profundo abraço?
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