9.3.22

lancinar

alguma loucura ainda espécie de lacuna secreta, só preenchida por certas formas anfíbias de amor e luar alguma ruminação interior de ervas acetinadas com uma dobra ajustada ao busto de nenhuma estátua que sou

muita abnegação e culpa por tudo que um simples deslize dos astros veio originar, no desalinho das nossas paixões, ventres abandonados, vozes mumificadas e morte, amor, muita morte em redor dos ombros

tanta paz, por vezes armada em betão e duríssima dor, mas ainda assim a paz de nada querer, aquela que todos queremos e só alcançamos no ventre escuro da noite

eu e tu acabaríamos a história a duas mãos, ouviríamos a morte a duas mãos, fecharíamos feridas nos sentidos, de onde sairiam as flores mais belas

aconteceu. passou. não foi. não pôde ser. nada mudou. a casa termina no rasto de amor que disseminámos.

quando quiseres lancinar a maturidade da tua voz eu ouço o golpe, prendo o sangue, desprendo raízes, corro em diagonal para o texto do nosso amor

e lancino-me


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