19.5.22

Fora e dentro

Falo para quem fui, agora que sou quem hei de ser, forasteira em lado algum, nativa de um país a entardecer

Uma morada fresca por dentro, selada por fora, os passos vazios em ervas cinzentas, a deambulação interior do caracol lento

Falo-te porque não sabes que em mim não há substância, nem seda que seduza

Falo-te para te dizer que não há partícula do universo que não venha de ti

Nem sombra do mundo que não lembre a aba do teu peito, o lume vivo de olhares por dentro e veres o que vejo

Os dias de saliva seca e suor secam o meu peito. Desgasto o polén e o viço no arrastar dos dias fora e dentro

Não é para nós o dia e o som do mais súbito realejo que corte a tarde numa memória de desejo. Talvez por isso, não escrevo

Não escrevo porque perdi a pena e perdi o jeito de te acolher dentro com um inesperado beijo

Mas continuo a empurrar um a um os dias como o velho do realejo. Não quero buscar-te. Não posso ter-te como se tem o medo, dentro

Atravesso-te tantas vezes num silencioso tempo que já não sei dizer onde moro, se fora ou dentro 

Porém, mais que saber-te não desejo

Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixa aqui um lírio

Recentemente...

Ângulos

Escuta Esta noite é mais aguda. Alguns cães ainda ladram à passagem da nossa sombra. Eu estou sentada no eixo duma escuridão sem nome. Tu re...

Mensagens populares neste blogue