Falo para quem fui, agora que sou quem hei de ser, forasteira em lado algum, nativa de um país a entardecer
Uma morada fresca por dentro, selada por fora, os passos vazios em ervas cinzentas, a deambulação interior do caracol lento
Falo-te porque não sabes que em mim não há substância, nem seda que seduza
Falo-te para te dizer que não há partícula do universo que não venha de ti
Nem sombra do mundo que não lembre a aba do teu peito, o lume vivo de olhares por dentro e veres o que vejo
Os dias de saliva seca e suor secam o meu peito. Desgasto o polén e o viço no arrastar dos dias fora e dentro
Não é para nós o dia e o som do mais súbito realejo que corte a tarde numa memória de desejo. Talvez por isso, não escrevo
Não escrevo porque perdi a pena e perdi o jeito de te acolher dentro com um inesperado beijo
Mas continuo a empurrar um a um os dias como o velho do realejo. Não quero buscar-te. Não posso ter-te como se tem o medo, dentro
Atravesso-te tantas vezes num silencioso tempo que já não sei dizer onde moro, se fora ou dentro
Porém, mais que saber-te não desejo
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