Cega, conduzida pelos sentidos, sigo entre outros cegos, que cegaram como flores de outono, mas ainda julgam ver. Não sabem que vê melhor aquele que vê só o que tem dentro de si. Nenhuma bomba atómica lhe entra nos olhos, nenhuma guerra o atinge, nenhuma degradação o suja, nenhuma mentira o derruba.
Só cegaremos todos quando o ecrã cintilante se esgotar a si mesmo nos inconclusivos rebates a fogo ordenados pelo velho ocidente.
Explodirá para nos desatar desta rede de cegos guiados por videntes e por aqueles invidentes de uma cegueira consensual para com quem lhes pagou.
Irra para esta sociedade louca. Irra para o medo, o pânico, o conserto do mundo com notas de papel e taxas indexadas ao interesse capitalista.
Irra para o liberismo, o neo-liberalismo, irra para os tomates espanhóis e para a carne da Bégica, irra para a farinha do leste, para o gás a peso de ouro e os pobres na conferência episcopal de Braga, na boca cheia dos bispos, sem que se levante alguém a gritar "Hipócritas!".
Sem que os seguidores de Cristo pontapeiem as mesas dos vendilhões do templo, as empresas e bancos e multinacionais com siglas e acrónimos que valem milhões de vidas.
Irra para a manipulação de consciências e destinos. Irra para tudo e para as visões geniais dos mandamentos modernos: "explora o teu próximo como a ti mesmo", "para ninguém te tirar um pão, tira tu o pão a todos", "para não levares uma bofetada, dá tu nas duas faces do outro". E, se tiveres de fazer um milagre, que seja o da desmultiplicação dos peixes.
E, assim, as instruções do criador são: roubarás, mentirás, matarás, fornicarás a mulher do outro e comerás os mais raros animais do paraíso, arrancando dele todas as maçãs douradas do ventre da Terra.
Estas prédicas passaram a enformar a bíblia moderna do capitalismo selvagem. Cada invidente arranha, assim, a carne viva de Cristo, descarna a humanidade, cruza cruzes nas costas de cada um, por mais ou menos cego que seja, e ainda agora procissão começa. Irra!
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